ATA DA SEGUNDA SESSÃO EXTRAORDINÁRIA DA SÉTIMA SESSÃO LEGISLATIVA EXTRAORDINÁRIA DA DÉCIMA LEGISLATURA, EM 08.02.1990.
Aos oito dias do mês
de fevereiro do ano de mil novecentos e noventa e nove reuniu-se, na Sala de
Sessões do Palácio Aloísio Filho, a Câmara Municipal de Porto Alegre, em sua
Segunda Sessão Extraordinária da Sétima Sessão Legislativa Extraordinária da
Décima Legislatura. Às dez horas e vinte e quatro minutos foi realizada a
segunda chamada, tendo sido respondida pelos Vereadores Adroaldo Correa, Airto
Ferronato, Antonio Hohlfeldt, Artur Zanella, Clóvis Brum, Cyro Martini, Décio
Schauren, Dilamar Machado, Edi Morelli, Elói Guimarães, Ervino Besson, Gert
Schinke, Giovani Gregol, Isaac Ainhorn, Jaques Machado, João Dib, João Motta,
José Alvarenga, José Valdir, Lauro Hagemann, Leão de Medeiros, Letícia Arruda,
Luiz Braz, Luiz Machado, Mano José, Valdir Fraga, Vicente Dutra, Vieira da
Cunha, Wilson Santos, Wilton Araújo, e Heriberto Back. Constatada a existência
de “quorum”, o Senhor Presidente declarou abertos os trabalhos. Em PAUTA,
Discussão Preliminar, 2ª Sessão, esteve o Projeto de Lei Complementar do
Legislativo nº 01/90, o qual foi discutido pelos Vereadores João Dib, José
Valdir e Viera da Cunha. Durante os trabalhos, o Senhor Presidente apregoou o
recebimento de Emenda do Ver. Dilamar Machado ao Projeto constante em Pauta.
Das dez horas e quarenta e um minutos às dez horas e quarenta e três minutos,
os trabalhos estiveram suspensos nos termos do art 84, inciso I, do Regimento
Interno. E, no transcorrer dos trabalhos, o Senhor Presidente respondeu à
consulta do Ver. João Dib, acerca de pronunciamento nos termos do artigo 81,
inciso 2º, do Regimento Interno. Em COMUNICAÇÃO DE LÍDER, o Ver. João Dib
contraditou declarações feitas pelo Ver. José Valdir, quando da discussão da
Pauta, asseverando que o Senhor Prefeito Municipal deve cumprir a Lei e honrar
os direitos dos funcionários públicos municipais, direitos que estão
assegurados em lei, segundo Sua Excelência. Discorreu acerca dos motivos que o
levaram a solicitar o “impecheament” do Prefeito Olívio Dutra. O Ver. Adroaldo
Correa analisou e afirmou discordar da interpretação das leis, feita pelo Ver.
João Dib, salientando que o julgamento dos procedimentos do Senhor Prefeito
cabe ao Tribunal de Justiça e não a este Legislativo. Quanto ao projeto de
“beteinização” dos vencimentos dos funcionários públicos, salientou ser medida
justa, no entanto, esbarra na escassez de recursos dos cofres municipais. O
Ver. Clóvis Brum, referindo-se ao Requerimento de autoria do Ver. João Dib,
salientou se tratar de matéria intempestiva e inoportuna, especialmente por
escudar-se no atraso de quinze dias do pagamento dos vencimentos dos
funcionários municipais. Questionou e denunciou o “lamentável estado de abandono
em que se encontra a cidade”, e perquiriu sobre a real vantagem dos
funcionários municipais passarem a receber seus vencimentos “beteinizados”. O
Ver. Dilamar Machado reportou-se ao pronunciamento do Ver. João Dib,
especialmente no tocante à análise em que S. Exa. condiciona o crescimento
físico ao crescimento intelectual, contraditando-o. Registrou a passagem do
sexagésimo terceiro aniversário da Rádio Gaúcha, parabenizando funcionários e
diretores daquela emissora. O Ver. Artur Zanella discorreu acerca de emenda de
sua autoria que tramita na Comissão de Sistematização da Lei Orgânica do
Município de Porto Alegre e que trata do pagamento semanal dos vencimentos dos
funcionários municipais. Leu declaração de voto de sua autoria que pretende
apresentar quando da votação do Requerimento do Ver. João Bib e salientou que a
atuação do Prefeito Municipal é que deve ser o objeto de discussão. Parabenizou
a Rádio Gaúcha pela passagem de mais um aniversário. O Ver. Luiz Braz,
abordando o Requerimento do Ver. João Dib, que pede a cassação do Prefeito
Olívio Dutra, salientou se tratar de ato “muito fatal, grave e sério” e que,
apesar do respeito que tem pelo discernimento e pela seriedade d autor da
proposição, sua Bancada abster-se-á de tal votação. Parabenizou, ainda, a Rádio
Gaúcha pela passagem de seu aniversário. Às onze horas e trinta e oito minutos,
nada mais havendo a tratar, o Senhor Presidente levantou os trabalhos da
presente Sessão, convocando os Senhores Vereadores para a Sessão Extraordinária
a ocorrer logo após. Os trabalhos foram presididos pelos Vereadores Valdir
Fraga e Clóvis Brum, e secretariados pelos Vereadores Lauro Hagemann e Wilton
Araújo. Do que eu, Lauro Hagemann, determinei fosse lavrada a presente Ata que,
lida e aprovada, será assinada pelo Senhor Presidente e por mim.
O
SR. PRESIDENTE (Valdir Fraga): A seguir, passaremos à
2ª SESSÃO
PROC. Nº 0225/90 -
PROJETO DE LEI COMPLEMENTAR DO LEGISLATIVO Nº 001/90, de
autoria do Ver. Isaac Ainhorn, que dispõe sobre o pagamento dos vencimentos de
janeiro de 1990, dos funcionários públicos municipais, em BTNF, da parte a ser
paga parceladamente.
O
SR. PRESIDENTE: O primeiro orador inscrito é o Ver. João
Dib, que tem a palavra.
O
SR. JOÃO DIB: Sr. Prefeito, vejam só que eu estou preocupado
com o Prefeito... Sr. Presidente e Srs. Vereadores, quem sabe o nosso
Vereador-Presidente não poderia ser o Prefeito se a Casa cassasse o mandato do
Sr. Prefeito Olívio Dutra
Um dos discursos mais bonitos que eu ouvi
do ex-Prefeito José Loureiro da Silva, lá na Baltazar de Oliveira Garcia, em
1963, quando ele era homenageado e dizia: “Sou um homem do tempo em que a
palavra valia mais que os documentos”. Hoje, os documentos assinados não estão
valendo nada – me acena o Ver. Elói Guimarães que ele não tem bigode, mas tem
palavra -, o Prefeito Olívio Dutra tem um bigode para arrancar um fio e fazer
respeitar um fio de bigode. Esse era o tempo do Dr. Loureiro da Silva, o meu
tempo, o tempo dos Senhores é, hoje, tempo em que precisamos de dignidade e
coerência, tempo em que precisamos de responsabilidade e seriedade. Esta Câmara
não precisaria ter sido convocada extraordinariamente para votar o Projeto de
Lei do Ver. Isaac Ainhorn se o Prefeito Olívio Dutra tivesse dignidade para
respeitar a sua assinatura. Aqui está um documento com a assinatura do
Prefeito, homologado por ele, onde diz: “A correção monetária não é pagamento a
mais, não é ônus, é apenas reposição do valor perdido pela moeda, do contrário
estaria se enriquecendo o devedor às custas do humilde servidor”. E no dia
23/08/89 o Prefeito Olívio Dutra homologou este documento da sua Procuradoria
e, agora, se nega a fazer a correção monetária dos salários dos servidores mal
remunerados.
E é por isto que alerto esta Casa, quando
falo em dignidade, quando falo em coerência, que não basta que nós votemos
leis, temos a responsabilidade de fazer cumpri-las. E é por isso que de repente
um Vereador toma uma atitude, aparentemente antipática, mas porque tem
responsabilidade e tem coerência, como têm responsabilidade e têm coerência,
por certo, os demais companheiros desta casa.
Volto a dizer: não haveria necessidade de
gastos para uma convocação extraordinária se o Prefeito, por coerência, por
dignidade, respeitasse a sua assinatura no dia 23.08.89. E é isto que tem
revoltado este Vereador, não é outra coisa, não desejo a cassação de mandato de
ninguém, quero que cada um continue cumprindo com seu dever acompanhando os
acontecimentos desta Cidade e não apenas colocando dinheiro no over, dinheiro
saqueado dos funcionários, que disse aqui: enquanto o Prefeito tira férias e
leva consigo o Secretário da Fazenda, dizendo que não tem recursos para pagar o
funcionalismo, eu trazia a esta tribuna, no inicio do mês de janeiro, um
documento dizendo que a Prefeitura poderia receber o ICMs todas as
terças-feiras. Ontem, um jornal do centro do País divulga na sua primeira
página uma notícia aos Secretários de Fazenda dos Municípios de Capitais, que a
lei foi sancionada, a Lei Complementar nº 63 foi sancionada peio Presidente
Sarney para que os municípios recebam, no segundo dia útil de cada semana o
ICMs, para que os municípios recebam de imediato o IPVA, o Secretário da
Fazenda estava de férias. E eu sei que a Prefeitura não está recebendo todas as
terças-feiras.
Então, há uma necessidade de dignidade,
uma necessidade de responsabilidade que está faltando. E é antipático alguém
vir a público dizer, assuma-se a responsabilidade, alguém vir a público exigir
o cumprimento da lei.
Cada um de nós, no dia 1º de janeiro, e
inclui-se aí o Sr. Prefeito Municipal, juramos, aqui nesta Casa e aqui nesta
tribuna, que cumpriríamos a Lei Orgânica integralmente, que cumpriríamos todas
as leis do Município. E há leis que não precisam ser escritas. Direito não é
senão o uso da ética e da moral, também. Direito é bom senso. A Constituição
Inglesa não foi escrita, é o direito consuetudinário, direito que os
municipários, por costume, por uso, durante 28 anos tiveram respeitado. E
passou a ser mais do que uma Lei, por que aquilo que não se escreve, aquilo que
o bigode de homem vale como fiador, aquilo que não foi escrito está sendo
desrespeitado pela terceira vez, nesta Administração, sem que esta Casa tenha
podido tomar uma medida mais séria. E, agora, o Prefeito esteve aqui, muito
simpático, muito educado, muito cortejado, para dizer que vai pagar no dia 16,
mas não com correção monetária. E o Ver. Isaac Ainhorn precisa fazer um Projeto
de Lei, quando ele assinou que tem que pagar. Então é isso que este Vereador
não entende. Eu nunca vou entender. Dirão que eu fui o Prefeito da ditadura.
Não! Já não havia mais, o Governador Jair Soares foi eleito pelo voto direto.
Dirão que eu quero cassação. Não quero cassação de ninguém. O que eu quero é
que a Lei seja cumprida, o que eu quero é que façam como eu fiz quando
Prefeito. Atendi a todos, discuti com todos, e não lesei os interesses dos
servidores e nem dos munícipes. Busquei, entregando o meu tempo todo, sem
nenhum dia de férias, sem nenhum dia de retirada deste Município, trabalhando aos
sábados e domingo, também, entrando na Prefeitura de manhã e saindo, às vazes,
à meia noite, conhecendo cada problema desta Cidade. O que eu quero é
responsabilidade, o que eu quero é competência, o que eu quero é que não
precise fazer lei para se cumprir o que já é lei. Porque direito
consuetudinário também é direito, volto a dizer que a Constituição Inglesa não
está escrita e tem coisas que são cumpridas há mil anos.
Então, o que adianta fazermos Leis para
não serem cumpridas e depois nós cruzarmos os braços. Eu não quero a cassação
do Prefeito Olívio Dutra. Eu gostaria que o Prefeito Olívio Dutra, sentindo os
anseios desta coletividade, soubesse resolver os problemas desta coletividade.
Eu gostaria que o Prefeito Olívio Dutra continuasse pagando o funcionalismo em
dia como a 28 anos acontece e ele em treze meses atrasou três vezes. E atrasou
três vezes sem nenhuma explicação como atrasou o pagamento - obrigou a atrasar
o pagamento – na Câmara Municipal e que os servidores, com justiça, fizeram
greve, porque o direito não estava escrito, mas era direito. A lei não estava
escrita, mas era lei, os 28 anos diziam que era uma lei, e o Prefeito não tinha
direito de alterar. Ele tentou, com uma lei, alterar isto aí. Tentou, mas as
regras que ele quis mudar, ele sentiu que estava errado e retirou o projeto e
agora culpa a Câmara. Ontem mesmo, e outras vezes eu tenho ouvido o Prefeito
culpando a Câmara que não aprovou o projeto de lei que ele propôs, tentando
saquear, legalmente, os funcionários. Ele vai saquear e já saqueou. Eu hoje
disse a ele, aqui: “Prefeito, fico satisfeito em vê-lo aqui porque imagino que
V. Exª veio dizer que vai pagar os servidores municipais, agora”. Mas não foi
isto que ele veio dizer. Hábil e inteligentemente, ele veio nos cumprimentar e
veio dizer que existe acima do Legislativo e do Executivo, o Poder Judiciário.
Eu sei que existe o Poder Judiciário, mas mais do que o Poder Judiciário existe
o poder da honra e da dignidade de cumprir um documento assinado. Mas, o Dr.
Loureiro da Silva já dizia, em 1963, e hoje nós vivemos um momento que nem os
documentos assinados valem. Mas a minha palavra e a de muitos Vereadores
continua valendo. Sou grato.
(Não revisto pelo orador.)
O SR. ADROALDO CORRÊA:
Sr. Presidente, eu gostaria de um esclarecimento da Mesa, porque consta do
Expediente desta Sessão Extraordinária o Proc. nº 0248/90, Requerimento do Ver.
Antônio Dib, de cassação do Prefeito Olívio Dutra. E eu ouvi deste Vereador, da
tribuna, por duas vezes, recentemente, que ele não quer cassar o Prefeito
Olívio Dutra. Eu não compreendi se ele retirou o seu Requerimento.
O SR. PRESIDENTE:
Não. O Requerimento está na Ordem do Dia, deve vir logo a seguir. Esgotada a
Pauta, colocaremos este Requerimento para encaminhamento e votação.
Próximo orador inscrito é o Ver. José
Valdir.
O SR. JOSÉ VALDIR:
Sr. Presidente e Srs. Vereadores. Nós estamos discutindo o Projeto do Ver.
Isaac Ainhorn, que manda beteinizar o pagamento dos atrasados do funcionalismo.
Não vou discutir o mérito, como não vou discutir o mérito de toda essa
preocupação que movimenta esta Casa, movimenta o Executivo, movimenta os
funcionários públicos, por toda essa situação criada. Na verdade, o que nós
temos que discutir é todo o conjunto de situações, e não é à toa que hoje,
sobre esse tema existem dois Projetos, inclusive esse do Ver. João Antonio Dib,
que “pede, mas não quer” cassação do Prefeito. É importante que a gente então
discuta globalmente essa situação. Eu tenho dito, nesta tribuna, que tem muita
gente que faz de fato o papel de avestruz que abordam os problemas como se não
tivessem história por trás de si. Os problemas acontecem de uma hora para
outra, não tem história por trás de si. E o Ver. João Dib, que me antecedeu
nesta tribuna, é muito interessante em seu discurso. Assim como ele agora pede
formalmente a cassação, mas
diz que não a quer, assume que foi homem da ditadura, mas não quis sê-lo. Quem
sabe foi oposição à ditadura, mesmo concordando com a ditadura. Não é à toa que
ele se refere ao período de Loureiro da Silva, e depois fica um buraco negro
que ele não menciona, pulando em sua fala para a situação atual. Não faz
referência a isso e vem com esse discurso que eu vou responder, embora ache que
é falso, pois visa desviar a discussão das questões políticas, falando de ética
e competência. Pois eu vou dizer, com todas as letras, que esta proposta do
Ver. João Dib, que é sobre o mesmo tema do Projeto do Ver. Isaac Ainhorn, na
verdade, parte de alguém que não tem ética, não tem moral política e não tem
condições técnicas e nem competência para fazê-la e vou dizer por quê. Ver.
João Antonio Dib, V. Exª não tem, absolutamente, condições éticas para vir
falar em defesa do Legislativo, eis que serviu a uma ditadura que espezinhou e
o destruiu, inclusive...
(Tumulto no Plenário.)
(Suspendem-se os trabalhos às 10h45min.)
O SR. PRESIDENTE
(Valdir Fraga – às 10h46min): Estão reabertos os
trabalhos.
O SR. JOSÉ VALDIR:
Sr. Presidente e Srs. Vereadores. Eu não me surpreendo que o Ver. João Dib
tenha todo este desespero e toda esta dificuldade em conviver com a democracia.
O Ver. João Dib esqueceu que não estamos mais na época em que para cassar
alguém se levantava o telefone e do outro lado atendia um militar de plantão...
Mas eu dizia que o Ver. João Antônio Dib
não tinha legitimidade política, nem condições éticas e técnicas, nem condições
para falar desse assunto e defender a Câmara de Vereadores. Só dou um exemplo:
onde estava o Ver. João Antônio Dib - não vi nenhuma nota na época, talvez me
engane - quando cassaram, nesta Casa, Marcos Klassmann, Glênio Peres? Não vi o
Vereador se manifestar nem a favor, nem contra. Onde estava o Vereador? Ele
nunca defendeu o Legislativo, coisa nenhuma! O Vereador é acostumado a fazer
cassação daquele tipo: levantar o telefone do gancho e falar com algum General
de plantão do outro lado. Condições políticas também não têm, porque o Ver.
João Antônio Dib não foi Prefeito desta Cidade, o Ver. João Antônio Dib foi um
homem condecorado por serviços prestados à ditadura militar! Foi um “Office-boy”
da ditadura militar! Isso não é ser Prefeito! Talvez um dia V. Exª seja
Prefeito, mas não foi ainda. E a questão da competência! Esse discurso da
competência - isso ele não cita -, é o mesmo do seu correligionário, o Delfim
Neto. Mas a competência tão alegada do Ver. João Antônio Dib deve ser do tempo
em que foi Secretário de Obras e fez diversos corredores, para o que gastou 5
milhões de dólares, que quatro anos depois já estavam caindo. Essa é a
competência do Ver. João Antônio Dib! Grande competência! E mais, competência
de quem fez um jogo, nesta Casa, sobre a arrecadação da Prefeitura. Perdeu e
não pagou até hoje. Jogou o salário dele, e até hoje não pagou, que a
Prefeitura ia arrecadar 30 milhões, se não me engano, e deu 24 milhões. É o que
dá fazer conta de cabeça na era da máquina. Na era da máquina eletrônica, fazer
conta de cabeça, para mim, é prova de desinteligência. É isso que o Ver. João
Antônio Dib faz. E quem faz conta de cabeça, se engana. A não ser que o Ver.
João Antônio Dib seja como aquele do livro de Malba Tahan, “O Homem que
Calculava”. Com “conta de cabeça” se beneficia, pois faz sempre somar camelos
nos seus cálculos.
O Ver. João Antônio Dib, além de tudo, é
um fazedor de bravata. Isso que ele está fazendo, aqui, de pedir a cassação do
Prefeito, é bravata para aparecer na imprensa.
O SR. PRESIDENTE:
Ver. José Valdir, não querendo chamar a atenção de V. Exª, nós estamos
discutindo a Pauta e, por favor, se atenha à Pauta.
O SR. JOSÉ VALDIR:
Exatamente, estamos discutindo o Projeto do Ver. Isaac Ainhorn que trata da
mesma situação sobre a qual o Ver. João Antônio Dib quis tirar, também, a sua
casquinha e apresentou este projeto que “pede, mas não quer” a cassação do
Prefeito. É a mesma situação que está gerando uma série de discussões nesta
Casa e que fez com que o Ver. João Antônio Dib viesse a esta tribuna fazer o
discurso que ele sempre faz, da honradez, da competência e assim por diante, o
qual estou rebatendo. Nesse momento, me parece que o que está em jogo é coisa
bem diversa. O Vereador não consultou a Constituição porque se a consultasse
veria que seu Projeto não tem viabilidade do ponto de vista legal.
Acontece que o Vereador, ao invés de
guiar-se pela Constituição que foi feita por um processo Constituinte
democrático, prefere dobrar-se a uma Lei que é do tempo de Castelo Branco.
Interessante como as coisas se colocam. Para concluir, Ver. João Antônio Dib,
fica bem claro nesta Casa, que o uso prolongado do cachimbo entorta a boca.
Vou dizer, Ver. João Antônio Dib, com
todas as letras nesta Casa - e não sou daqueles que digo e depois peço para
tirar dos anais - a ditadura acabou, mas ela deixou uma série de filhotes e
aqui, nesta Casa, temos um que é Vossa Excelência.
(Revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE:
Ver. João Dib, por favor.
O SR. JOÃO DIB:
Sr. Presidente, na forma do antigo 81, parágrafo 2º, pediria o tempo de 10
minutos já que fui citado pelo menos umas 10 vezes, nominalmente.
O SR. PRESIDENTE:
O Requerimento de V.Exª já está sendo anotado e no decorrer da Sessão, se V.Exª
tiver direito, terá o tempo.
Ver. Vieira da Cunha, último orador
inscrito para Pauta.
O SR. VIEIRA DA CUNHA:
Sr. Presidente, Srs. Vereadores, não posso negar que venho a esta tribuna numa
situação de constrangimento; constrangimento pela situação a que chegamos nesta
Casa; constrangimento porque um Vereador colega de Bancada, Ver. Isaac Ainhorn
tenha que fazer um Projeto de Lei para dizer que o Executivo deve pagar com
correção monetária a parcela que atrasou, relativa aos vencimentos do
funcionalismo público municipal. Quando o Chefe do Executivo homologou um
parecer da sua Procuradoria no sentido de que, administrativamente, deve ser
reconhecida a correção quando há atraso no salário do funcionalismo, tivemos
que fazer este Projeto, porque infelizmente a regra tem sido esta, na
Prefeitura, desde que se instalou a autodenominada Administração Popular.
Reconhecem-se os direitos, reconhecem as justiças das reivindicações e não
cumprem o que dizem defender e reconhecer. Esta uma das maiores provas do que estou
afirmando: o Prefeito homologa um parecer dizendo que o salário quando atrasado
deve ser pago ou corrigido e nós, aqui da Câmara, temos que votar um Projeto de
Lei para que o Prefeito cumpra o que diz reconhecer até em nível
administrativo.
E vejam bem, companheiros Vereadores, que
nós estamos discutindo, aqui, uma diferença salarial relativa a um reajuste
correspondente ao último bimestre de 1989, estamos no dia 8 de fevereiro, nos
debatendo para que o Prefeito pague diferença relativa a novembro e dezembro do
ano passado. A que ponto nós chegamos. Fico imaginando como é que se sente o
servidor público municipal ouvindo o Prefeito Olívio Dutra, alto e bom som, sem
constrangimento algum, nas rádios, nas TVs e nos jornais dizendo que tem 90
milhões de cruzados novos aplicados na especulação financeira, no mercado
aberto, no over, tem centenas, talvez milhares de trabalhadores com diferenças
salariais a receber da Prefeitura. Isso é uma incoerência absoluta, é
despropositado, porque várias vezes nós já trouxemos, desta tribuna, as
promessa que o Sr. Prefeito fez ao funcionalismo, está aqui o Presidente do
Sindicato, estão lá os panfletos que pediam votos para a Frente Popular,
acusando o Prefeito Colares de arrocho salarial. E diziam que a partir do momento
em que a Frente Popular assumisse a Prefeitura, as coisas iriam mudar. E que
não queriam só a inflação, mas teriam recuperação do poder aquisitivo do
municipário. E o que estão fazendo é sequer pagar a inflação, sequer repor a
inflação, que dirá recompor as perdas salariais, que houve, sim, e nós, do PDT,
reconhecemos que houve, inclusive durante a nossa Administração. Mas assumiram
o compromisso com os municipários. É mais uma promessa eleitoral que não se
cumpriu. Isso tem que ser denunciado, o funcionalismo precisa se mobilizar e
reivindicar o cumprimento das promessas de campanha.
Sr. Presidente, Srs. Vereadores, eu passo
para o segundo Projeto em Pauta. Se tudo isso é verdade, Ver. João Dib, também
é verdade que a reação de V. Exª, no meu ponto de vista e da minha Bancada, foi
desproporcional, com todo respeito que V. Exª merece. E V. Exª sabe que o
fundamento legal do pedido de cassação tem base, exatamente, num dispositivo
legal que se origina de uma Emenda, de minha autoria, naquela época na votação do
Projeto do Ver. Leão de Medeiros, que determinava o reajuste mensal da
inflação, eu já me preocupava com a situação de janeiro. Por isso fiz constar
uma Emenda que foi aprovada pelo Plenário no sentido de que, independentemente
da garantia em lei da correção mensal, se estabelecesse a data de 31 de janeiro
como data limite para o pagamento dos salários daquele mês, com o reajuste dos
117%. Esta lei, efetivamente, foi descumprida, V. Exª tem razão, sob o ponto de
vista formal. Há uma lei que não foi cumprida, o Sr. Prefeito jurou cumprir as
leis, portanto, sob o ponto de vista formal V. Exª tem razão, caberia até o
pedido de cassação do mandato do Prefeito. Agora, convenhamos, abstraindo estas
questões, nós vamos entrar a fundo na análise do problema, a nosso ver o que
seria uma reação desproporcional desta Casa cassar o mandato do Prefeito,
porque o Prefeito atrasa o pagamento dos vencimentos do funcionalismo público,
e há um posicionamento político da Bancada do PDT no sentido de não aceitar a
cassação do mandato do Prefeito por estes fundamentos.
O SR. PRESIDENTE:
Vereador, o que está em Pauta, agora, é o Projeto nº 225, o reajuste mensal da
inflação.
O SR. VIEIRA DA CUNHA:
Pois não, Sr. Presidente, eu aceito a ponderação de V.Exª e volto à questão da
correção salarial para dizer que o mínimo que esta Casa pode fazer é aprovar um
projeto que garanta ao funcionalismo o recebimento destas parcelas atrasadas
corrigidas monetariamente. E, finalizando, eu quero deixar claro o seguinte: a
manifestação da Bancada será coerente neste ponto. E a Bancada do PDT, aliás,
tem todas as condições políticas e morais de votar favoravelmente a este
projeto, porque quando fomos chamados a compreender a situação financeira da
Prefeitura, no final do ano passado, e emprestar os 12 votos da Bancada
majoritária desta Casa à aprovação de aumento real do IPTU, de aumento real da
taxa de lixo, da criação de novas taxas do Município de Porto Alegre, nós não
fugimos à nossa responsabilidade. Emprestamos os votos dos 12 Vereadores do PDT
para aprovação quase completa da reforma tributária que propunha o Executivo
Municipal. Por isso, nós não podemos aceitar, agora, o discurso para mim já
gasto e superado, do conflito entre os interesses da Cidade e os interesses dos
funcionários. Depois da aprovação da reforma tributária este discurso não cola
mais e eles batem na mesa tecla. Ontem, ainda, me reunia com a Secretária de
Educação e os funcionários demitidos da FESC, e é a mesma tecla: o enxugamento
da máquina porque os interesses da Cidade têm que estar acima dos interesses
aos servidores públicos municipais. Mas este discurso não vale mais, agora, não
pode valer mais, porque os instrumentos para o aumento da arrecadação estão aí
à disposição do Executivo Municipal. Esta Câmara deu os instrumentos ao
Executivo para aumento real de arrecadação da Cidade de Porto Alegre. Pela
primeira vez na história um Prefeito vai administrar a Cidade com o imposto
beteinizado, com o imposto corrigido mensalmente pelos índices da inflação.
Portanto, companheiros Vereadores, nós vamos votar este Projeto, com a
consciência do dever cumprido na votação da reforma tributária, e agora,
também, com a consciência do dever cumprido em relação aos direitos do servidor
público municipal. Muito obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE:
Respondendo ao Ver. João Dib, tendo em vista que já estamos no encerramento dos
encaminhamentos desta Pauta, referente à sua Questão de Ordem, dez minutos para
a discussão na Ordem do Dia, em caso especial não previsto neste Regimento,
deferidos pelo Presidente. A Presidência entende que não deve conceder esses
dez minutos para Vossa Excelência. Liderança com o Ver. João Dib, por cinco
minutos.
O SR. JOÃO DIB:
Sr. Presidente e Srs. Vereadores. Incrível, mas eu vou me identificar: João
Antonio Dib, divorciado, engenheiro civil, brasileiro, nascido em Vacaria,
filho de Antonio e Julia Dib. Não sou filhote de ninguém, e fui um filho muito
bem cuidado. Tão bem cuidado que cresci, uns não cresceram, e não vão crescer
também, isto que é importante. Não vão crescer porque o cérebro é diminuto. Eu
na realidade disse aqui que eu não desejo cassar o Prefeito Olívio Dutra, mas é
a lei que determina que ele seja cassado. Eu não quero cassar, mas é a lei. E
esta Casa é de legisladores, de pessoas sérias, de pessoas coerentes, de
pessoas corretas, de pessoas que representam o povo. E o povo, num programa de
Jayme Copstein, há duas madrugadas atrás, em trinta respostas dizia que a
administração é péssima e que até levou o eminente Ver. Wilson Santos a fazer
uma solicitação de plebiscito para saber se queriam a continuação da
administração Olívio Dutra ou não; eu não quero, a lei diz que o Prefeito jura
cumprir e tem que cumprir a lei, eu não quero nada, é a lei que quer. Por que
vou querer cassar o Prefeito Olívio Dutra, para botar o Tarso Genro. Não! Eu
quero o cumprimento da lei, agora a lei quer que ele seja cassado, e eu não
quero nada diferente, nada demais, quero que ele pegue o dinheiro do Over que é
do funcionário; ele diz que não tinha o dinheiro, e depois vai, na presença da
Rádio Gaúcha, e diz que tinha no BANESPA 90 milhões, ontem à noite; ontem à
noite eu mostrei para ele que não eram 90 milhões. Sr. Prefeito, são 105
milhões já, porque 90 era no dia 31 de janeiro, mostrei para ele também que
mais 12 milhões de IPTU entravam no dia 31 de janeiro, porque eu tinha
mostrado, para surpresa dele, surpresa do Dr. Flávio Koutzii, que havia
ingressado na Fazenda até o dia 31, mas era uma informação prévia, 45 milhões
de IPTU, só no dia 31, mas era prévia, e ontem entraram mais 12 milhões
referentes ao dia 31. Eu tenho mostrado que as coisas não são tão difíceis
quanto parecem. Falei no Prefeito José Loureiro da Silva, porque eu acho que
foi o maior Prefeito desta Cidade, e foi com ele que aprendi que melhor
política é boa administração, não é se queixar, não é chorar, não é dizer que
os antecessores é que não souberam administrar a cidade, não é nada disso, é
assumir a Prefeitura, porque desejou assumir a Prefeitura, mas também assumir
as responsabilidades do cargo. Não são todas as semanas, ou três vezes por mês
viajar, deixar a Cidade: qual o Prefeito? Qual o Vice-Prefeito? E, aí soma
tudo, não dá nada. Não, a melhor política é boa administração, e será que a
Popular esta fazendo uma boa administração? O povo há de responder por mim. Os
Vereadores do PDT que, maciçamente, como disse aqui o ex-Líder da Bancada, Ver.
Vieira da Cunha, votaram o pacote tributário, contrariamente, às posições do
PDS, eventualmente, ouviram aqui o Dr. Tarso Genro que precisava pagar o
funcionalismo em dia; ouviram aqui o Dr. Flávio Koutzii, Secretário do Governo,
hoje, mas ex-Líder da Bancada do PT, dizendo “quem sabe nós não damos, então,
na integralidade o que está sendo pedido, mas também não damos para os funcionários
o que eles querem”. O que eles querem, não, o que eles têm direito, direito
assegurado por lei. E o que quer o Ver. João Dib, Vereador mais votado desta
Cidade, para tristeza de muitos que estão fazendo contas ali? Quer apenas, como
qualquer outro Vereador, que a lei seja cumprida.
É isto, Sr. Presidente, João Antônio Dib,
filho de Dona Júlia Dib e de Antônio Dib e de mais ninguém. Muito obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
O
SR. PRESIDENTE (Clóvis Brum): Liderança com o
Partido dos Trabalhadores, Ver. Adroaldo Corrêa.
O
SR. ADROALDO CORRÊA: Sr. Presidente e Srs. Vereadores, o Ver.
João Dib, estribado na sua interpretação do Regimento, que é possível que
exista e justa, porque tem uma abordagem pessoal da história e das coisas que
podem ocorrer por ação do homem nesta Casa, buscou a guarida do art. 81, inciso
2º, para ter dez minutos de assuntos não previstos na Pauta, que lhe pudesse
assegurar o tempo de tribuna, que acabou usando como de Liderança. A Mesa
entendeu que não era um assunto especial até porque o Vereador já havia se
pronunciado na Pauta sobre o tema e voltou a se pronunciar sobre o tema e não
sobre outro assunto. O Ver. João Dib, na sua visão pessoal de interpretação das
leis, diz que a cassação, embora não queira, é obrigada pela lei, a Lei nº 201,
a que o Vereador se refere, de 1967. Se formos levar em consideração o processo
constituinte construído, neste País, embora não-soberano, embora não-livre do
ponto de vista da nossa reivindicação à época, democrático no que se exerceu,
dentro daquele plenário, nós veríamos que o que resultou no art. 29 da
Constituição, Capítulo dos Municípios, inciso 8º é que o julgamento do Prefeito
cabe ao Tribunal de Justiça. Então, Ver. João Dib, na sua interpretação pessoal
da lei, está equivocado. Tem a competência e a responsabilidade, e do ponto de
vista como foi afirmado aqui, desta tribuna, foi derrotado nas urnas em 1988.
Esta competência que utilizou durante um período largo da história deste País
recursos externos que carrearam somas fantásticas para formar uma dívida, hoje
em torno de 130 bilhões de dólares desse Estado, que nacional ainda é, mas
soberano não é. No nosso ponto de vista, estes recursos animaram a competência
e a seriedade das administrações daquele período, inclusive a do Ver. João Dib
nesta Cidade, e o que nós estamos discutindo, aqui, neste ponto em que se
encerrou a Pauta, a partir da Liderança do Partido dos Trabalhadores, é que
aqueles recursos fartos que o povo brasileiro paga com sangue, suor e a vida
dos seus filhos não existem mais. O Brasil vê-se às voltas com um modelo
econômico esgotado, do ponto de vista do capital externo, que não injetará mais
aqui aqueles recursos conseguidos à soldo de uma obediência servil de uma Nação
a outra, de uma Nação dominada, de una Nação que buscou a liberdade e que por
pouco não conquistou a liberdade nas últimas eleições sob o ponto de vista de
tratar soberana e democraticamente o seu povo nas relações internacionais.
Mas o Ver. João Dib tem uma interpretação
toda pessoal de como se dão os movimentos no Município em relação ao Prefeito.
Nós achamos que o que deve ser obedecido é a Constituição e, no momento
oportuno da discussão, do conhecimento do Requerimento do Ver. João Dib,
teremos uma postura contrária justamente por isso. Na parte que estabelece a
remuneração de mora dos vencimentos em atraso dos servidores, temos a dizer
apenas o seguinte: justo, porém na mesma proporção de que não se recorre aos
bancos para continuar pagando o que é justo e devido aos servidores, a
Prefeitura houve por bem anotar que estes vencimentos, esta diferença em função
da escassez de recursos que, se estão no over, têm compromissos objetivos no
mês de fevereiro a serem pagos. Esses recursos não estão indo para o bolso de
algum, estão na Administração Municipal cumprimento de recursos do mês. O
próprio Ver. João Dib anotou, aqui, na sua intervenção, que dia 31 recebemos
ainda no dia 7 e no dia 6 receitas previstas para o mês de janeiro. Não
colhemos esses recursos no mês de janeiro, embora devêssemos pagar a folha no
mês de janeiro. Era isso que tínhamos a dizer pela Liderança do Partido dos
Trabalhadores. Obrigado.
(Revisto pelo orador.)
O
SR. PRESIDENTE (Valdir Fraga): Com a palavra o Ver.
Clóvis Brum.
O
SR. CLÓVIS BRUM: Sr. Presidente, Srs. Vereadores, que as
minhas primeiras palavras sejam de protesto à expressão usada pelo Ver. Dib, na
tentativa desse Vereador tentar desagravar a imagem e a inteligência de Rui
Barbosa, o nosso grande “Águia de Haia”. Como engenheiro, evidentemente, o Ver.
Dib desconhece esses fatos, mas gostaria que ele incluísse no seu currículo que
um homem de estatura baixa foi o grande “Águia de Haia”, representando este
País na sua imortalidade. E, Sr. Presidente, Srs. Vereadores, com relação,
especificamente, ao Requerimento do Ver. João Dib quero dizer que os
funcionários municipais têm razão. Efetivamente, era necessário este atraso, da
mesma maneira que a Prefeitura vai pagar a correção monetária desses dias em
atraso para determinadas categorias dos funcionários municipais, poderia, sim,
ter lançado mão de um empréstimo nas versões dos Ver. Dib até teria esses
recursos, se tivéssemos que cassar o Prefeito, Sr. Presidente, Srs. Vereadores,
não escolheria este caminho, até porque o atraso de quinze dias de pagamento
para o funcionalismo não pode ceifar da vida pública um Prefeito eleito para
uma Cidade do tamanho de Porto Alegre. Depois de muitos anos se constituiu, o
Prefeito O1ívio Dutra, o segundo Prefeito eleito de Porto Alegre nos últimos 30
anos. E não seria justo que pelo não cumprimento de uma lei com referência ao
pagamento de uma parcela dos funcionários, a Câmara se levantasse para retirar
da Administração Popular, da frente da Prefeitura, um Prefeito eleito pela
vontade do povo de Porto Alegre. Até correria o risco de dizer que muito mais
grave do que isto está a sujeira da Cidade, está a escuridão da Cidade, estão
os buracos que povoam esta Cidade, está o caos no transporte coletivo da
Cidade, uma passagem cara, transporte deficiente, com risco da própria
segurança da população. E o caos do transporte coletivo não é só no centro da
Cidade. E, neste sentido, o Ver. Edi Motelli lembra que, na Restinga Velha, não
tem mais ônibus. E lá vive um aglomerado muito grande de pessoas. Retiraram os
ônibus da Restinga Velha, diz o Ver. Edi Morelli.
O conjunto dessas coisas significa lei
não cumprida, porque é da competência do Poder Público Municipal o transporte
coletivo da Cidade, tanto é verdade que ele interveio e os empresários não
conseguiram mexer nestas intervenções, porque o Poder Judiciário deu como
privativo do Poder Público Municipal o transporte coletivo. Mas, infelizmente,
as intervenções foram para gerar o caos.
Portanto, o Requerimento de Cassação, do
Ver. João Dib, é intempestivo, inoportuno, e muito mais grave, ele tenta
comprometer, quando ele cobra a seriedade dos Vereadores de Porto Alegre, ele
ao mesmo tempo compromete esta seriedade com um Requerimento em que ele diz
que, se pago o funcionalismo, ele retira. Ora, nós sabemos que, se pago os
funcionários, inexiste qualquer culpa eventual da Administração. O Ver. Isaac
também apresenta um Projeto rápido, inteligente e criativo, mas reunir a Casa
em Sessão Extraordinária para beteinizar este atrasado de 1quinze dias, quando
nós sabemos que talvez corrigido pela inflação vai dar um pouquinho mais, eu
não entendi. Não sei se o Ver. Isaac está a favor ou contra os funcionários. Eu
até gostaria de que o Ver. Isaac, na defesa do seu Projeto, me justificasse que
beteinizando, os funcionários vão ganhar mais que a correção da inflação.
Parece-me que a BTN não acompanha bem a inflação, e nem o Governo teria esse
interesse. Se acompanhar a inflação, tudo bem. Agora, se for inferior a
inflação, a gente fica até temeroso.
Mas, rigorosamente, Sr. Presidente, Srs.
Vereadores, nós somos contrários a que a Casa aceite o Requerimento do Ver.
Dib, até para não comprometer o nível da decisão da Casa sobre matéria de
cassação de mandato. Cassar mandato é coisa muito séria, e que não pode ser
comprometida com “requerimentozinhos” em função disso ou daquilo. Foi um
“requerimentozinho” que deu alguma notícia. Talvez esse Requerimento, Ver. Dib,
além da notícia recebida por V. Exª, eu acho que o Prefeito vai ficar com a
responsabilidade de pagar mais em dia os funcionários. Neste sentido, V. Exª andou
certo. Sou grato.
(Não revisto pelo orador.)
O
SR. PRESIDENTE: Com a palavra em tempo de Liderança, o
Ver. Dilamar Machado.
O
SR. DILAMAR MACHADO: Sr. Presidente, Srs. Vereadores, eu
gostaria de lembrar ao nobre amigo Ver. João Dib, que a genética tem caminhos
da maior profundidade. Qualquer aluno que tem se aprofundado pouco no estudo da
genética saberá que o desenvolvimento físico do ser humano, historicamente, não
está ligado ao desenvolvimento cerebral. E que nós vivemos num País extremamente
pobre, em que milhões de pessoas nascem e morrem antes de completar um ano de
idade, porque a maioria das famílias desta Nação pertence à classe pobre,
dentro de uma miserável e condenável estratificação social que condena ao
subdesenvolvimento físico e, também, em boa parte, ao subdesenvolvimento
intelectual a maioria dos brasileiros. Eu sou filho de um casal pobre. Meu pai
era Sargento do Exército quando eu nasci e sou de uma família de nove irmãos,
Ver. João Dib, e sei das dificuldades extremas que meu pai passou para criar os
filhos e para levá-los a um mínimo grau de estudo e entendimento. Mas eu acho
que embora eu pertença a uma família pobre, talvez mal alimentada, não tenha me
desenvolvido fisicamente, mas não tenho a menor dúvida de que tenho a mais
ampla lucidez sobre o que estou fazendo nesta vida e do que faço nesta Casa. E
se tamanho físico tivesse alguma importância no concerto das nações eu diria
que o Ronald Biggs, que tem quase dois metros de altura, é um dos maiores
ladrões do mundo. O General Ernesto Geisel que era um homem muito alto foi um
dos maiores facínoras da vida política desta Nação. E no reino animal não há
nada maior do que um elefante, um boi, um cavalo, que são facilmente dominados
por uma criança. Citado por V. Exª o Reino Unido da Grã-Bretanha, como um País
altamente desenvolvido, que não tem, sequer, uma Constituição escrita, é bom
lembrar a V. Exª que é um dos países mais colonialistas do mundo que, até hoje,
desgraça povos inteiros com o seu sistema colonial. E que a sua Rainha, a Srª
Elizabeth é a maior fortuna pessoal do mundo, detentora, hoje, não por ser
Rainha, mas como ser humano, de uma fortuna de 9 bilhões de dólares. Tamanho,
Ver. Dib é sempre discutível.
Eu sei que V. Exª é um homem inteligente,
não tenho a menor dúvida da sua honorabilidade, da sua honradez pessoal, mas
vou levar em conta que a dimensão da agressão que V. Exª quis fazer ao Ver.
José Valdir fica envolvida num momento de embotamento cerebral do Ver. João
Dib, V. Exª disse, sem querer dizer, que nós, menos privilegiados no tamanho,
somos menos inteligentes ou mais burros. Eu quero aproveitar os instantes
finais desta vinda à tribuna, Ver. Presidente, para encaminhar, como
ex-funcionário de uma das mais importantes emissoras deste País, o meu abraço pessoal
e da Bancada do Partido Democrata Trabalhista ao trabalho pela comunidade deste
Estado feito há 67 anos, pela Rádio Gaúcha de Porto Alegre. Foi meu primeiro
emprego como radialista, fui diretor dessa Emissora, e ali no microfone da
Rádio Gaúcha eu comecei a minha vida como radialista e tive o meu maior momento
como profissional do rádio e de comunicação, com o povo desta Cidade, deste
Estado. Até hoje sou extremamente ligado à sua direção por laços pessoais de
amizade, aos seus funcionários, aos seus repórteres, aos seus diretores,
destacando aqui a presença do companheiro Carneiro Lopes que comigo trabalhou
há muitos anos, eu acredito que há quase 30 anos na Rádio Gaúcha, e a todos os
companheiros que ali, hoje, labutam diariamente, mandando especialmente aos
radialistas da Gaúcha o meu abraço, a minha solidariedade no dia em que esta
emissora completa 63 anos de existência. Indiscutivelmente, é hoje um dos mais
importantes meios de comunicação social no Brasil. Eu conheço todas as
emissoras de rádio no Brasil e diria que hoje no “ranking” do rádio brasileiro
a Rádio Gaúcha está entre as mais importantes, se não for a mais importante
emissora de Rádio neste País. Uma programação clara e discutível, às vezes do
ponto de vista de posicionamento dos seus apresentadores, muitos dos quais eu
discordo. Citaria, pessoalmente, o Sr. Rogério Mendelski, cuja atuação no
microfone não tem nada a ver com o meu pensamento político, com a minha maneira
de ver as coisas, mas respeito a opinião de todos eles: Lauro Quadros, Lasier
Martins, Paulo Sant’Ana, Armindo Ranzolin, enfim, Pedro Ernesto, aqueles
companheiros radialistas, muitos dos quais começaram comigo no rádio e que,
hoje, fazem um engrandecimento dos meios de comunicação através da Rádio
Gaúcha. A minha Rádio Gaúcha, o meu abraço! São mais de 60 anos em que esta
emissora vem trabalhando para o Rio Grande. Transmito, em nome do PDT, as
homenagens à nossa querida Rádio Gaúcha. Muito obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
O
SR. PRESIDENTE: Para uma Comunicação de Liderança, o Ver.
Artur Zanella.
O
SR. ARTUR ZANELLA: Sr. Presidente e Srs. Vereadores,
aproveito essa lembrança do Ver. Dilamar Machado e também diria que sou filho
de funcionário público estadual, com mais sete irmãos, Vereador Dilamar, e meu
pai era funcionário público estadual. Eu, também, aqui enfrentei e enfrento as
dificuldades de um pai funcionário público. Eu, como funcionário público,
lembrando sempre para aqueles que, às vezes, esquecem de que meus ingressos,
bem como as promoções, sempre foram por concurso público. Até com o Dr. Leonel
Brizola, quando então iniciei.
Quanto à Rádio Gaúcha, aprendi admirá-la
quando universitário, lá trabalhava sob a forma de cachê, como redator de
esportes com Ari dos Santos e, quando o tempo dava, alguma coisa de notícias
com o grande Ibsen Pinheiro. Naquela época, além de comentarista esportivo, era
um dos grandes jornalistas da área de notícias, uma espécie de revisor das
grandes notícias. Lá trabalhei muitos anos como estudante e por isso conheço
aquela Rádio da qual tenho maior orgulho de ter pertencido.
Quanto ao Projeto do Ver. Isaac Ainhorn
tenho, acho que não foi entendido, ontem, uma Emenda na Lei Orgânica dizendo
que preconizo o pagamento semanal dos salários pela BTNF. Até colocava que
atendia a urna sugestão da CUT e da CGT, e que o Ver. José Alvarenga também tem
um projeto nesse sentido, na Lei Orgânica, com alguns artigos, mas, que o
último não concordo muito com o Ver. José Alvarenga. Mas fiz questão de tirar
xerox, e vou passar a todos os Srs. Vereadores, depois de um estudo que a CUT e
a CGT fazem sobre o pagamento semanal de salários, feito também pelo DIEESE.
Tem uma Emenda minha também dizendo que o básico do Município deve ser o do
DIEESE, a vida inteira ouvi essa reivindicação do PT, dos funcionários, então
incluí. O DIEESE e a CUT fazem um estudo dizendo que o poder de compra dos
salários, em 1989, corrigido mês-a-mês pela inflação, teve uma perda de 54,51%,
corrigido mês-a-mês. O Município corrige de dois em dois meses, então a perda é
maior, e quando houve aquela alteração dos salários, em março, abril ou maio,
dizia aqui que os funcionários iam ser prejudicados. O Ver. João Dib até foi
contra mim, àquela época, dizendo que não iam perder nada, e eu dizia que iam
perder, e perderam.
Então, votarei a favor do Projeto do Ver.
Isaac Ainhorn, tranqüilamente, porque desde o início deste governo e dos outros
governos eu tenho dito isso. Foi um comentário, também, acerca do que disse o
Ver. Edi Morelli ao Ver. Clóvis Brum, e encaminho, aí, o problema do
Requerimento do Sr. Ver. João Dib. Eu acho que tem que ser discutido, também, é
a forma de atuação do Sr. Prefeito Municipal, e disse, hoje, uma frase que a
gente pode perder um amigo, como pode perder uma frase. O Ver. Flávio Koutzii,
por exemplo, está assinando os seus atos, respondendo pela Secretaria do
Governo, está errado, ele não está respondendo, ele é o Secretário do Governo
Municipal. Em compensação, o Sr. Valdir Bongás, que se assina Presidente da
FESC o faz, o que no teor legal se chama como falsidade ideológica. O Sr.
Valdir Bongás não é o Presidente da FESC, não pode ser o Presidente da FESC,
não pode receber procuração para ser Presidente da FESC, e o Sr. Flávio Koutzii
sabe disso. Há dois ou três meses eu entreguei para ele todos os pareceres
jurídicos dos advogados da Câmara Municipal de Vereadores, e o Sr. Valdir
continua assinando, ilicitamente, ilegalmente, como Presidente da FESC. A
Presidente é a Secretária da Educação e o Vice-Presidente é o Secretário
substituto, de acordo com a lei. Ele não tem nem procuração, o que tem é uma
Ordem de Serviço delegando a ele o poder de Presidente. Isso é pior, Ver. João
Dib, do que esse atraso dos pagamentos. Mas, Sr. Presidente, me perdoe, eu vou
entregar uma Declaração de Voto dizendo, basicamente, que o Ver. João Dib
apresentou um Requerimento respaldado nos votos dos seus eleitores. Tem todo o
direto de apresentar e eu votarei favorável a este documento. Mas, já digo,
também, na Declaração de Voto que eu voto pelo recebimento, não trato do mérito
e, basicamente, creio que a cassação de uma pessoa eleita pelo voto direto e
livre como foi, deve ser feito pelos seus eleitores, e não por nós, a não ser
que haja um fato extremamente grave. Muito obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
O
SR. PRESIDENTE: Comunicação de Liderança com o Ver. Luiz
Braz, do PTB.
O
SR. LUIZ BRAZ: Sr. Presidente e Srs. Vereadores, a exemplo dos
meus colegas que me antecederam na tribuna, quero fazer também uma saudação à
Rádio Gaúcha, ao meu amigo Carneiro Lopes e dizer que tenho a honra de ter, no
meu currículo, a passagem pela Rádio Gaúcha como apresentador de um programa,
em substituição ao meu grande amigo e ex-funcionário da Gaúcha, Celso Ferreira,
no ano de 1982, exatamente, quando fui eleito pela primeira vez como Vereador desta
Câmara Municipal. Durante um tempo razoável nós estivemos à frente do programa
que antes era apresentado pelo Celso Ferreira e de lá eu trago boas
recordações. Uma delas, que para mim é inesquecível, é a do Dr. Maurício
Sirotsky Sobrinho, que talvez tenha sido um dos maiores incentivadores na minha
vida, e do qual eu tive a honra de privar da amizade. Sempre que possível, o
Dr. Maurício me incentivava na minha vida profissional.
Dr. Dib, vim à tribuna para falar
diretamente com Vossa Excelência. Eu fui o único Vereador da Casa que esteve
presente no momento em que V. Exª entregava para o Presidente da Câmara
Municipal o seu Requerimento pedindo o “impeachment” do Prefeito Municipal, Dr.
Olívio Dutra, e dizia a V. Exª, sem termos lido o documento, que nós apoiávamos
sua atitude. Mas, num dado momento, naquela reunião, V. Exª dizia que se o
Prefeito pagasse os funcionários, V. Exª retiraria o documento. E eu disse,
naquela oportunidade - V. Exª deve estar lembrado - de que não éramos
favoráveis a isso. Não podíamos ter a retirada do documento simplesmente pelo
fato do pagamento dos funcionários, porque isso não faria desaparecer o fato
delituoso. V. Exª voltou, hoje, aqui a esta Tribuna, num discurso empolgado.
Eu, que respeito tanto as idéias de V. Exª, discordava, quieto em minha
tribuna, quando dizia que na verdade colocava o Requerimento, mas não queria a
cassação do Dr. Olívio Dutra. Digo
a V. Exª, Ver. João Dib, que esse é um ato - V. Exª tem plena
convicção disso - tão sério, tão melindroso, tão fatal, tão decisivo, tão
definitivo que acredito que só quando tivermos absoluta convicção de que ele
está sendo colocado no momento certo, no momento exato é que realmente devemos
fazê-lo. V. Exª quando estava aqui, nesta tribuna, discursando na discussão de Pauta,
V. Exª me desculpe, com todo o respeito que tenho por V. Exª, V. Exª na minha
opinião não tinha a convicção de que o documento que V. Exª colocava tinha que
ter por objetivo a cassação. É claro que a lei diz, Vereador, mas é claro que
se fosse por V. Exª e V. Exª, pela segunda vez declarava isso na minha frente,
que se possível, se o pagamento se desse, V. Exª retiraria o documento. Como
fui bastante honesto com V. Exª e disse-lhe, pessoalmente, e estou dizendo
agora em público de que apoiaríamos o ato que V. Exª tomava sem nem mesmo
lermos o documento, apenas confiando na seriedade com que V. Exª dirigiu os
seus trabalhos, estamos, aqui, dizendo à V. Exª, que, pelo discurso que V. Exª
teve, pelo encaminhamento que deu, pela posição que mostrou que não é
praticamente a intenção de V. Exª chegar ao momento final, vamos nos abster.
Conversei com meu colega Edi Morelli, vou pedir licença a V. Exª e estou
declarando em público que estava disposto a apoiar a intenção do Requerimento
que V. Exª colocava aqui na Casa, mas estamos nos abstendo da votação, eu e o
meu amigo Ver. Edi Morelli, a Bancada do PTB, com todo respeito ao trabalho que
V. Exª faz na Casa. As intenções de V. Exª eu sei que são as mais sérias
possíveis, mas acredito, mais uma vez, para finalizar, que não é o que V. Exª
quer e V. Exª demonstrou isso aqui desta tribuna. Muito obrigado.
(Não revisto pelo
orador.)
O SR.PRESIDENTE: A
Mesa apregoa o recebimento da Emenda do Ver. Dilamar Machado ao PLCL nº 01/90.
Estão encerramos os trabalhos.
(Levanta-se a Sessão às 11h38min.)
* * * * *